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quarta-feira, 24 de junho de 2009

Poesia para crianças


"... assim que desasnei, ou seja, que aprendi a ler, mergulhei nos clássicos infantis - Perrault, Andersen, Condessa de Ségur, Grimm, etc. - da série Encanto e Verdade. O contato com a poesia só se daria dois ou três anos mais tarde, no grupo escolar. E foi um contato inicialmente desastroso. Os autores de compêndios para o ensino da língua portuguesa tinham um faro infalível para escolher o pior, o mais chato e o mais convencional em matéria de versos. Apesar do horror que me causavam - ou por causa dele mesmo - guardo até hoje na memória fragmentos de poemas que me obrigavam a ler na escola. Um desses poemas de que me lembro falava de um menino que tinha achado um relógio: Achei um relógio,/gritava Janjão,/pulando contente/com ele na mão./Achei um relógio/com uma corrente./Que belo! Que belo!/Agora sou gente! Quanta besteira, pensava eu comigo. Quem seria descuidado a ponto de perder um relógio de bolso com corrente e tudo? Eu, se achasse um, ficava era de boca fechada. Não ia me pôr a gritar feito imbecil: "Que belo! Que belo!", exclamação de mariquinhas, não de menino que se prezasse. Só no começo da adolescência foi que me livrei dessa falsa idéia de ser a poesia um tipo de linguagem enfeitada, obrigatoriamente rimada e metrificada, que nada tinha a ver com as coisas da realidade e que só servia para aborrecer a paciência dos alunos ou ser recitada, mão espalmada no peito, nas festas cívicas."

(PAES, José Paulo. Poesia para crianças - um depoimento. São Paulo: Giordano, 1996.)

2 comentários:

  1. Engraçado... a poucos dias estive pensando sobre o lugar que a forma poética ocupa em nossa sociedade. Se no contexto em que vivemos as pessoas têm dificuldades de se assumirem enquanto autoras de prosas, que dirá de poemas. Tá, não é engraçado... é preocupante: motivo de refletir sobre o modo de proporcionar uma aproximação entre o gênero e os leitores. Alguém tem alguma sugestão?

    Abçs,
    Bárbara

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  2. Barbara,
    é mesmo preocupante essa situação, talves se proporcionarmos aos leitores um encantamento. Tentar levar aos leitores um pouco da sensibilidade que a poesia tras em seu contexto..

    È uma dica...

    Abraços

    Gabi

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